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quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Oraçao do Milho

Oração do milho! Senhor, nada valho
Sou a planta humilde dos quintais pequenos
e das lavouras pobres.
Meu grão, perdido por acaso, nasce e cresce na terra descuidada.
Ponho folhas e hastes , e, se me ajudares, Senhor, mesmo planta de acaso, solitária,
dou espigas e devolvo em muitos grãos o grão inicial, salvo por um milagre, que a terra fecundou.
Sou a planta primária da lavoura.
Não me pertence a hierarquia tradicional do trigo, de mim não faz o pão alvo universal.
O justo não me consagrou pão da vida nem lugar me foi dado nos altares.
Sou apenas o alimento forte e substancial dos que trabalham a terra,
alimento de rústicos e animais de jugo.
Quando os deuses da Hélade corriam pelos bosques, corados de rosas e de esipgas,
os hebreus iam em longas caravanas buscar na terra do Egito o trigo dos faraós,
quando Rute respigava cantando nas searas de Booz e Jesus abençoava os trigais maduros
eu era apenas o bró nativo das tabas ameríndias.
Fui o angu pesado e constante do escravo na exaustão do eito.
Sou a broa grosseira e modesta do pequeno sitiante.
Sou a farinha econômica do proletário, sou a polenta do imigrante, a miga dos que começam a vida em terra estranha.
Alimento de porcos e do triste mu de carga, o que me planta não levanta comércio, nem avantaja dinheiro.
Sou a fartura generosa e despreocupada dos paióis.
Sou o cocho abastecido donde rumina o gado.
Sou o canto festivo dos galos na glória do dia que amanhece.
Sou o cacarejo alegre das poedeiras à volta dos ninhos.
Sou a pobreza vegetal agradecida a vós, Senhor, que me fizeste necssário e humilde.
Sou o milho!
Cora Coralina.

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